O que é afinal o açúcar?! Sabemos o que estamos a consumir?! Que açúcares devemos e podemos comer?
Conheça a história do açúcar, tipos de açúcar e alguns números “assustadores”.
História do açúcar
A história do açúcar remota já de há vários milhares de anos. Foi na Índia, no século V que se desenvolveu a técnica de solidificar o caldo extraído da cana-de-açúcar e transforma-lo em cristais granulados. Durante muitos anos o açúcar era uma iguaria rara e cara, usada para fins medicinais e como especiaria. O seu consumo era um luxo para a maioria da população mundial. Este encontrava-se apenas na fruta, em algumas plantas, raízes e no mel – e o organismo habituou-se a armazená-lo, sob a forma de glicose, para ter energia de reserva para os períodos de carência alimentar. E, não haveria nenhum problema se assim continuasse mas o seu consumo excessivo está a tornar-nos pessoas obesas e doentes.
Após a revolução industrial o homem começou a colocar de parte os bons açucares (farinhas e os grãos integrais – absorção lenta pelo organismo) e começou a optar por cereais refinados (hidratos de carbono simples – açúcares que o organismo transforma rapidamente em glicose). Pior só mesmo após a segunda metade do século XX em que o açúcar passou a aditivo alimentar e a entrar disfarçado na nossa alimentação diária.
o seu consumo excessivo está a tornar-nos pessoas obesas e doentes
Industria do açúcar
A produção de açúcar tornou-se uma indústria poderosíssima. Rapidamente o açúcar começou a entrar nas casas de cada um de nós e a tornar-se um dos ingredientes preferidos das famílias, ora de forma explicita, como oculta, tornando os alimentos apetecíveis e preferíveis. O seu impacto económico foi tão grande que inibiu a possibilidade de estudos científicos nos anos 60 mostrarem os efeitos nefastos para a saúde. A conclusão é de um estudo conduzido por Cristin Kearns da Universidade da Califórnia, segundo o qual representantes da indústria do açúcar terão manipulado durante décadas a investigação sobre os efeitos deste produto na saúde, disseminando a ideia de que algumas doenças ou problemas cardíacos são causados apenas pelo colesterol e gorduras saturadas.
Foi criado um grupo norte-americano “Sugar Association”, que representava os interesses da indústria açucareira. Segundo documentos encontrados em arquivos públicos, em 1964 a “Sugar Association” discutia internamente formas para lidar com a campanha negativa global contra o açúcar, depois do aparecimento de alguns estudos que associavam o produto ao aparecimento de doenças cardíacas. Em 1967 sai um primeiro artigo nesta sequência que culpabiliza as gorduras saturadas e o colesterol pelo aparecimento de doenças cardíacas e obesidade.
Estava assim passada a batata quente e o açúcar continuava ilibado dessa má fama e durante mais umas boas décadas tivemos como vilões as gorduras e como bem aprazível o açúcar.
Açúcar – o veneno da actualidade
O açúcar refinado é um sacarídeo. Após metabolizado pelo organismo transforma-se em glicose, fornecendo energia ao funcionamento do nosso organismo. Mas existem sacarídeos e sacarídeos. O açúcar é uma substância sem valor nutricional que fornece calorias vazias, de absorção rápida, e causa problemas metabólicos (obesidade, colesterol alto, hipertensão), níveis elevados de glicémia e insulina, que podem provocar doenças graves. Os sacarídeos que necessitamos provêm dos hidratos de carbono complexos que nos dão energia de absorção lenta e não provocam os famosos picos de insulina.
Se a nossa alimentação passa por um café com açúcar pela manhã, hambúrguer processado ao almoço, refrigerante para combater o calor, chocolate para afogar as mágoas o resultado é simples: excesso de glicose e armazenamento da mesma sob a forma de glicogénio pelo fígado. Mas, com todo este excesso, estas reservas passam também a não ser utilizadas e é aí que começam os problemas metabólicos.
E a diabetes tipo II? A diabete tipo II surge exactamente em pessoas que consomem açúcar em excesso. Após o consumo de açúcar há uma transformação repentina do mesmo em glicose. Por sua vez o pâncreas liberta insulina que impede que a glicose se acumule no sangue e que promove o seu armazenamento celular. Mas, se comermos alimentos açucarados em excesso e com regularidade o pâncreas está sempre a produzir insulina e a armazenar glicose. O resultado serão os picos de insulina que estão na origem de inúmeros problemas. Com o passar dos anos surge a inflamação, a obesidade, a diabetes tipo 2, a aterosclerose, a doença cerebrovascular e o fígado gordo.
O açucar é uma substância sem valor nutricional que fornece calorias vazias, de absorção rápida, e causa problemas metabólicos
Os bons açucares
Mas, existem aqueles açucares que devemos e podemos continuar a consumir (consoante as necessidades diárias de cada um). Esses são os hidratos de carbono complexos, que são absorvidos lentamente pelo organismo, e vêm acompanhados de fibras e vitaminas. Podemos encontra-los essencialmente nos cereais, vegetais e leguminosas. A fruta contém açucares de absorção rápida contudo, contêm fibra associada que ajuda a assimilação do açúcar, ajuda a baixar o colesterol e regula os níveis de glicose no sangue.
Os números assustadores
Segundo o INE, cada português come 30,3 quilos por ano, o valor mais baixo desde 2008/2009 (34 quilos). Isto significa que cada um de nós ingere 2,9 kg de açúcar por mês, ou seja, 96,3 gramas por dia. Convertendo para a realidade é como se comêssemos todos os dias 16 pacotes de açúcar ou 23 colheres de chá de açúcar.
OMS estima que em Portugal as doenças não transmissíveis sejam responsáveis por 86 por cento da mortalidade total (102 848 óbitos em 2011), sendo as doenças cardiovasculares (37 por cento), o cancro (26 por cento) e a diabetes (cinco por cento) as que mais matam.
Porque é tão difícil dizer não aos açucares?
O açúcar vicia. O açúcar estimula a produção de serotonina e dopamina que proporcionam a sensação de bem-estar e prazer. Mas, quando baixa a serotonina somos tentados a procurar mais açucares para suprimir esta carência e assim entramos num ciclo vicioso difícil de controlar.
Dizem ser necessários 21 dias para acabar com um vício. Estás tentado a experimentar e encontrar soluções mais saudáveis a nível alimentar?
Bibliografia
– Cristin E. Kearns, et al. Sugar Industry and Coronary Heart Disease ResearchA Historical Analysis of Internal Industry Documents.
– Lustig, Robert. Fat Change: Beating the Odds against sugar, processed food, obesity and desease. USA.
– Lustig, Robert. The Toxic Truth about Sugar. Nature. Vol 428. 2012
– Sales, C. Medicina Funcional Integrativa – Nutrição Funcional.