A Tendinite do tendão de Aquiles é uma das lesões mais frequentes dos atletas e runners. O tendão de Aquiles é o maior tendão do corpo humano e é formado pela junção distal dos músculos gémeos e solhear e insere-se na parte posterior do osso calcâneo no pé.
Os tendões são estruturas diferentes dos músculos. Menos vascularizados e por isso com mais dificuldades em recuperar das lesões.
Os tendões são feixes de tecido conjuntivo através dos quais os músculos estão unidos aos ossos e a outras estruturas mais ou menos sólidas ou estáveis. O seu principal componente são as fibras de colagénio, cuja elasticidade e resistência possibilitam a extensão do tendão, quando o músculo se contrai, de modo a que, quando o músculo se relaxa, consiga recuperar a sua posição anterior.
Quase todos os tendões têm uma bainha sinovial que reveste o tendão como uma capa e que tem como objectivo permitir um melhor deslizamento do tendão e evitar fricção com outras estruturas que estão perto dos tendões.
Classificações para as lesões no tendão de Aquiles
Na verdade existem várias classificações para as lesões no tendão de Aquiles, dependendo das estruturas afetadas.
1– Tendinite. Termo mais comummente utilizado quando sentimos uma dor na zona do tendão. É caraterizado por dor ao toque, após a corrida e pela manhã nos primeiros passos.
2 – Paratendinite. O tendão de Aquiles não tem uma verdadeira bainha sinovial. Em vez dela tem duas camadas de tecido conjuntivo que se denominam paratendão. A inflamação do paratendão dá dor com crepitação ao movimento, tanto na flexão dorsal do pé como na flexão dorsal.
3 – Tendinose. A tendinose é o resultado de traumas repetidos no tendão. Normalmente é possível palpar um espessamento do tendão, é necessário despistar possíveis roturas parciais. Ocorre mais na área mais avascular do tendão – 2 a 6cm perto da sua inserção no calcâneo.
4 – Entesopatia – inflamação na inserção no calcâneo. Mais comum em atletas de saltos ou de velocidade.
É possível avaliar fisicamente pelos sintomas apresentados e local da dor ou através de exames complementares de diagnóstico como a ecografia ou ressonância magnética.
Tratamento
O objectivo de qualquer tratamento para além de recuperar a lesão e permitir ao atleta o regresso à sua actividade passa também por perceber a origem da lesão de modo a evitar recidivas.
Avaliar a postura estática e dinâmica, calçado utilizado, alterações ao treino são as primeiras abordagens. Tema já abordado aqui.
Estratégias de tratamento
1. Alteração da carga de treino: normalmente a alta quilometragem contribui para o aumento de dor. O primeiro passo será diminuir a carga e intensidade para a efetividade da recuperação.
2. Redução dos sinais inflamatórios: gelo após atividade (10-15min). Uso de calcanheira para diminuir alongamento no tendão (evitar andar descalço). Ligadura funcional para aproximar fibras e facilitar a cicatrização.
3. Massagem local ou transversal profunda: numa segunda fase a massagem ajudará a organizar as fibras e melhorar o aporte sanguíneo à area.
4. Eletrólise percutânea terapêutica: técnica inovadora que ajuda a regenerar o tecido danificado do tendão de aquiles. É usada uma micro-corrente na área mediante uma agulha de acupunctura. Os resultados satisfatórios têm levado cada vez mais os atletas a recorrer a esta técnica.
3. Melhoria do tónus e flexibilidade dos gémeos e solhear: músculos posteriores da perna muito tensos provocam um maior stress sobre o tendão. É importante normalizar o tónus e a sua flexibilidade.
4. Fortalecimento dos gémeos e solhear. A fase excêntrica do fortalecimento é a mais importante pois ajuda na reorganização das fibras de colageneo do tendão. Este exercício deverá ser mantido até 3 meses após a lesão.
5. Treino de Glúteo médio e máximo: alguns estudos têm demonstrado que alterações de recrutamento dos músculos glúteos estão associadas a maiores cargas sobre os tendões de aquiles.
6. Melhoria da mobilidade do pé e tornozelo: alguns atletas apresentam rigidez a nível articular nos ossos do tornozelo e pé. Está estudado que o treino excêntrico com o trabalho de mobilidade na área (terapia manual e osteopática) melhora os níveis de dor.
As estratégias de tratamento aqui apresentadas são estratégias globais, a sua utilização depende do tipo de lesão apresentada e das suas causas. É necessário pensar sempre que cada caso é um caso e o que resolve a lesão do nosso colega pode não resolver a nossa.
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